Cresci. Estou crescendo todo o tempo, não posso evitar. Mera eu, que ora fui tão pequenininha… Eu cresci. Estou crescendo. Sou como uma árvore frondosa. Finquei raízes num lugar um pouco distante de onde me colocaram como semente. Eu nasci pequenininha. A terra de onde eu vim era um vasinho, muito fértil, mas arenosa. Tive água e calor. Tive chuva e córrego. Regaram até com um pouco de amor. O vento me levou. Eu parei em solo fofo, fértil, com algum mofo, mas também com muito suco para fortificar. Os resquícios de fezes, mato e sorte me fizeram mais forte. As minhocas mostraram um norte e eu fui me arrebatar. Eu nasci e eclodi. Cravei no terreno. Sobrevivi ao sol forte e a algumas doses dos venenos que a vida traz. Eu sou como essa árvore frondosa. Cresci para cima, formei meu tronco grosso, com muito sugo e do próprio esforço, busquei a energia do sol. Emanei troncos e folhas vistosas. Hoje tenho uma grande copa, na qual sou sombra e conforto para outrem. Cresci firme. Cresço cada vez mais. Vejo agora um horizonte vasto de coisas lá de cima. Sei que existe muito mais além. Me adaptei às mudanças de clima. Sobrevivo e resisto a tempestades. Crescendo para cima, por vezes, tenho a sensação de que me afasto das minhas raízes, mas não as esqueço. Mesmo que lá da copa me venha a visão de todo o livramento, é de lá também que vem o vento tormento que me assola e me traz medo de ser derrubada. O céu se fecha, anunciando o vendaval. Quando o vento forte vem, é nas minhas raízes que confio. Eu tenho medo de crescer muito. Ficar longe do fundo. Eu não quero morrer ou ser derrubada. Ainda não. Talvez por isso sofro. Talvez ela um meo tolo, pois sei que mesmo quando um dia tiver me tornar um peso morto, posso virar madeira de lei. Daquelas que. que mesmo depois de morta serve de sofá, cadeiras, quadros ou portas. Que eu abra então os caminhos para gente nova.
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